Eleição: uma aposta sábia, talvez provável

11/06/2018

Há algumas semanas, o antropólogo Luiz Eduardo Soares organizou no Rio de Janeiro   uma reunião com convidados da sociedade civil e lideranças dos diversos partidos de oposição. O objetivo era pressionar os partidos visando à unidade em torno de um nome de consenso, pelo menos para Governador do RJ, já que para Presidente isso seria mais difícil.

Todos os partidos presentes concordaram em dialogar no sentido da busca de um candidato comum para evitar a fragmentação que leva à vitória da direita. Houve, porém, uma exceção: uma representante do PSOL disse que seu partido não aceita pressão da sociedade. Ou seja, o PSOL prefere ouvir o eco de sua própria voz.

Com efeito, pouco depois, o PSOL lançou no Rio seus candidatos próprios a governador e senador, sem diálogo com outros partidos de oposição ou com lideranças da sociedade civil. Essa visão isolacionista me lembra o início do PT quando o lema era “Vote no três, o resto é burguês” (o número do PT na época era três). A mensagem era clara: fora do PT – como antes fora da Igreja – não havia salvação.

No plano nacional, relembro aqui um artigo do cientista político Wanderley Guilherme criticando o slogan “Eleição sem Lula é fraude”. Ele alertava para a importância de a esquerda ganhar a eleição, o que é possível, e discordava da rejeição da eleição se Lula não fosse candidato. Outros analistas políticos alertaram para a necessidade de alianças eleitorais sob pena de facilitar a vitória da direita na eleição presidencial.

O que deve ser evitado a todo custo é a possibilidade de um segundo turno com a direita disputando com a extrema direita. Isso seria a prorrogação da política antinacional e antissocial do atual governo por mais quatro anos. O Brasil cairia definitivamente nas mãos do capital financeiro improdutivo, dominado pelos bancos e grandes empresas multinacionais.

Creio que a tendência do eleitorado de oposição será votar no candidato melhor colocado. Se os partidos não fizerem aliança por cima, os eleitores provavelmente farão voto útil para garantir a presença da oposição no segundo turno. Há quem considere que este candidato será Ciro Gomes. Outros acham que o candidato que Lula vier a apoiar (talvez Haddad, talvez Ciro Gomes, não se sabe) irá ao segundo turno e ganhará a eleição.

É cedo para prognósticos. A campanha eleitoral só começa em meados de agosto. Estamos no início da pré-campanha que será praticamente interrompida com a Copa do Mundo entre 14/6 e 15/7. Candidatos que hoje parecem fortes poderão cair muito por falta de tempo de TV no horário eleitoral gratuito ou mesmo por fracassar em debates. Outros poderão subir nas pesquisas.

O que me parece importante ressaltar desde já é o perigo de uma vitória da direita que irá suprimir a possibilidade de um projeto nacional, de uma inserção autônoma no mundo globalizado, de um desenvolvimento econômico sustentável com garantia dos direitos sociais e individuais, afastando ainda mais o capital financeiro da obrigação de investir na produção para a criação de riqueza e emprego, e do compromisso com a redução da desigualdade social e da necessidade imperiosa de defesa do meio ambiente.

Voltará com força a retórica enganosa da política de “austeridade” que, em nome das “reformas” e do “equilíbrio” das contas públicas, justifica criminosamente o corte das despesas sociais do Estado com educação, saúde, meio ambiente, habitação, transporte, ciência e tecnologia, cultura etc. E poupa os ricos que continuarão pagando, quando pagam, baixos impostos.

Acima dos interesses particularistas dos partidos e de seus fiéis seguidores, os eleitores conscientes tenderão a votar no candidato de oposição em condições de chegar ao segundo turno. Isso é apenas uma aposta. Não se trata de uma aposta de Pascal, mas de uma atitude prudente e sábia que, a meu ver, tende provavelmente a ocorrer.