Destruindo o Brasil

23/08/2019

Em 23 de agosto, o Presidente da França anunciou que não vai firmar o Acordo com o Mercosul. A imprensa alemã já pede boicote a produtos brasileiros. A Irlanda e a Finlândia já propuseram boicotes. O apoio oficial do Presidente brasileiro ao desmatamento e às consequentes queimadas estimulou os incêndios que devastam a Amazônia. A questão se tornou internacional, agravada pelos ataques insanos aos governantes da Alemanha, França, Noruega, e aos países árabes em geral.

Seria necessário um livro para enumerar todas as sandices e ilegalidades cometidas por Bolsonaro desde que assumiu a presidência. Ele trava uma guerra contra os princípios básicos da civilização e da democracia. Quer destruir tudo e nada propõe de construtivo.

Já se disse que ele tem a pulsão de morte. Suas iniciativas levam, se realizadas, a aumentar o número de mortes no país. Armas para todos, mudar regras de trânsito, apoiar chacinas como os assassinatos de favelados ou de índios, são alguns dos inúmeros exemplos. Pratica a necropolítica no quadro geral do que já se chamou de Tanatocracia.

Governar, para ele, é fazer guerra. Utiliza a guerra de guerrilha. Todo dia se movimenta, ataca uma frente e recua para atacar outra. O objetivo é destruir a educação, a ciência, a cultura, os recursos naturais do meio ambiente, os direitos humanos, as organizações da sociedade civil, a política externa independente etc.

Seu método é a mentira. Verdade é o que ele quer que seja verdade. Se os fatos da realidade não confirmam seus desejos e opiniões insanas, que se danem os fatos. Ele vem desenvolvendo uma guerra sem quartel contra a ciência, a educação, os direitos humanos, o meio ambiente, a. cultura, todos vistos como inimigos a serem abatidos. Tem o perfil típico do ditador absolutista incapaz de conviver com as instituições democráticas.

Apesar de tudo isso – et pour cause – julgamos que o alvo principal da oposição não deve ser o tresloucado presidente, mas sua base de apoio que pode ser resumida em três grupos principais: importantes setores do mercado, das forças armadas e do Judiciário.

O mercado está em geral se lixando para valores da civilização. Seu foco são as reformas econômicas que vão garantir lucros e transferir renda dos pobres para os ricos ao cortar despesas sociais e aumentar o volume de recursos para o mercado financeiro.

As forças armadas, por meio de generais e outros oficiais de alta patente, participam diretamente do governo, colhendo suas benesses e arriscando sua reputação.

O Judiciário, em sua maioria, sempre apoiou as ações ilegais da Lava Jato que condenaram Lula sem provas para afastá-lo da campanha eleitoral. Com as revelações do Intercept, porém, isso pode mudar, até por razões corporativas, já que os ministros do STF ficaram indignados com a audácia dos procuradores que pretenderam investigar ministros sem base em nenhuma prova.

Esses são os três grupos principais que constituem a base de apoio do governo. Em vez de atacar apenas o estapafúrdio presidente, a oposição e seus parlamentares fariam melhor em desenvolver uma política de crítica e também de aproximação com esses setores buscando explorar a possibilidade de uma transição política a curto prazo.

Afinal, eles estão moral e politicamente incomodados em apoiar um governo anti ético e anti científico que está destruindo o Brasil, com repercussões internacionais, como é o caso recente da Amazônia, entre outros.

Mas o mais importante é que essa base de apoio começa a fraturar. O agronegócio está assustado com a possibilidade de perder mercado comprador dos produtos agrícolas que exporta. Líderes associados ao agronegócio advertiram o Governo de que a política anti ambiental em curso ameaça as exportações para a Europa e países árabes. As recentes advertências de Katia Abreu e Blairo Maggi vão nessa direção.

Empresas agrícolas de exportação temem que os atuais contratos não sejam renovados. A saída de capital externo na bolsa este ano é a maior desde 1996 (Valor, 19/8/2019). Diversos jornalistas e economistas alertam para a “mistura explosiva” da perda de mercado com a crise econômica mundial em decorrência da guerra comercial EUA X China (Miriam Leitão, O Globo, 20/8/2019).

A base de apoio de Bolsonaro começa a fraturar. É chegada a hora de construir uma aliança sólida e suprapartidária da oposição com as forças vivas da sociedade civil e dos movimentos sociais visando defender a democracia e barrar a marcha insana em direção à anomia, ao caos e à ditadura. O que está em questão é a defesa da civilização contra a barbárie.