Duas Observações de Umberto Eco

12/06/2020

 

Abrindo um parêntese em dois assuntos obrigatórios – a pandemia e a tragédia política brasileira – estou lendo o último livro de Umberto Eco, Pape Satàn Alleppe, Crônicas de Uma Sociedade Líquida.

Em dado momento, ele comenta uma pesquisa feita no Reino Unido nos anos 2.000 a respeito de alguns personagens reais e fictícios. 25% dos entrevistados disseram que Churchill, Charles Dickens e Gandhi eram personagens de ficção, e Robin Hood e Sherlock Holmes eram personagens reais.

No caso de Sherlock Holmes, é compreensível. Existe uma exploração turística da casa onde ele teria morado em Baker Street, e muita gente ouviu falar de Sherlock Holmes, mas não leu as histórias criadas pelo escritor Conan Doyle.

Já Robin Hood ficou famoso pelo fato de, em plena economia feudal, roubar dos ricos para dar aos pobres, o que na época não era tão raro. Segundo Umberto Eco, isso nos surpreende porque se trata exatamente do contrário do que ocorre hoje na economia de mercado que rouba dos pobres para dar aos ricos.

Em outro capítulo, ele comenta um programa da TV italiana que fez duas perguntas a 4 jovens, na faixa de 25 a 30 anos. A primeira foi “Quando Hitler foi nomeado chanceler?”, limitando a resposta a 1933, 1948, 1964 e 1979. A segunda foi “Quando Mussolini recebeu o poeta Ezra Pound?”, limitando a escolha aos mesmos anos anteriores.

Como Hitler e Mussolini morreram no final da guerra em 1945, a única resposta possível era dizer o ano de 1933, mas ninguém acertou. Todos escolheram os outros anos. Ou seja, o passado é uma geleia geral, tudo achatado, aqueles jovens italianos não tinham a menor ideia do que foi a Segunda Guerra Mundial.

Não creio que no Brasil seja diferente. Se perguntarem a jovens de escolaridade média, entre 20 e 30 anos, se Brasília foi inaugurada em 1960, 1964, 1968 ou 1973, provavelmente vão “chutar” e errar. Pior seria se o entrevistador fizesse alguma pegadinha do tipo, por exemplo, “Qual o Presidente da República que aboliu a escravidão: Deodoro da Fonseca, Floriano Peixoto, Campos Sales ou Rodrigues Alves?”.

Não vejo muito TV, não sei se existe um programa parecido na TV brasileira. Acho que já existiu. Fiquei curioso de saber como pessoas de nível médio, a maioria da população, responderiam a algumas perguntas sobre fatos históricos conhecidos.