Uma civilização que, para sobreviver, depende de petróleo, não merece esse nome (Carlos Drummond de Andrade, O Avesso das Coisas) 05/01/2020 Todo dia lemos na imprensa notícias de devastação ambiental. No Brasil, destaque para a Amazônia, onde o desmatamento aumentou 212% em outubro de 2019 em relação ao mesmo mês do ano anterior, segundo levantamento divulgado em dezembro último pelo Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon). Em 2018, foram perdidos 187 km². Em 2019, 583 km². A derrubada da floresta entre agosto e novembro de 2019 foi 100% maior do que no mesmo período de 2018. A partir de maio de 2019, o desmatamento da Amazônia aumentou sem controle. A fuligem das queimadas chegou a escurecer o céu em São Paulo, em agosto. O INPE detectou o maior índice de devastação da floresta das últimas duas décadas — um avanço de 29,5%, em apenas um ano, atingindo 9.762 km². “Estão destruindo o Brasil”, diz o famoso fotógrafo Sebastião Salgado ao questionar o governo e afirmar que é preciso respeitar a Amazônia e as terras indígenas. Além da Amazônia, tivemos em 2019 o rompimento da barragem da Vale, em Brumadinho (MG), que, em janeiro, arrasou o Rio Paraopeba e superou em mortes a tragédia de Mariana, em 2015. Há 270 mortos, dos quais 13 permanecem desaparecidos. E também o óleo que cobriu as praias do Nordeste e parte do Sudeste. Mais de 3 mil quilômetros de litoral foram afetados. No mundo, tivemos recorde de temperaturas que em julho de 2019 foram as mais quentes já registradas, a uma média de 16,7 graus Celsius para o planeta, anunciou a Administração Nacional Oceânica e Atmosférica dos EUA (NOAA). Reflexo do aquecimento global, nove dos dez meses de julho mais quentes foram registrados após 2005. Uma onda de calor na Europa redefiniu recordes: 42,6 graus Celsius em Paris, 41,8 graus na Bélgica, Alemanha com 41,5 graus e 38,7 no Reino Unido. Dos 20 anos mais quentes do registro histórico, 19 ocorreram desde 2000. A temperatura média global já subiu 1,1 grau desde a era pré-industrial. Apenas nos últimos 40 anos, mais da metade dos vertebrados do mundo morreu, segundo o World Wildlife Fund. Os recentes incêndios na Austrália mataram, até agora, 20 pessoas e meio bilhão de animais! Em 2019, ocorreram 15 catástrofes climáticas. Sete dessas catástrofes causaram prejuízos avaliados em mais de 10 bilhões de dólares. Furacões, inundações, incêndios florestais, fenômenos meteorológicos extremos, alimentados pela mudança climática, impactaram todos os continentes em 2019, levando à morte e ao deslocamento milhões de pessoas e causando bilhões de dólares de prejuízos, segundo a ONG britânica Christian Aid em relatório publicado em 27 de dezembro último. Somente os incêndios florestais na Califórnia em outubro/novembro passado acarretaram um prejuízo de 25 bilhões de dólares! Todos esses desastres estão relacionados à mudança climática. Na Argentina e Uruguai, por exemplo, onde as inundações causaram 2,5 bilhões de prejuízo em janeiro, as zonas afetadas tiveram precipitações cinco vezes mais importantes que a média, um ano após terem sofrido uma grave seca. As variações se acentuam com a mudança climática e os solos, tornados mais secos, agravam as consequências em caso de fortes chuvas. Outro exemplo, o ciclone Idai, que devastou a segunda cidade de Moçambique em março passado, foi reforçado, segundo os cientistas, pelo aquecimento da temperatura do Oceano Índico, e a subida do nível das águas agravou as inundações que vieram em seguida. O mesmo fenômeno ocorreu com o ciclone Fani na Índia e em Bangladesh em maio 2019, com prejuízos estimados em mais de 8 bilhões de dólares. A organização Christian Aid ressalta, todavia, que as cifras financeiras não dão de forma alguma uma visão global da extensão dessas catástrofes no que diz respeito à população. As inundações no norte da Índia causaram 1.900 mortes, e as de Moçambique, 1.300 mortes. Como sempre, é a população mais pobre quem paga o preço mais elevado dos impactos provocados pelas mudanças climáticas. Mas os custos financeiros são maiores nos países ricos. Um relatório suíço de meados de dezembro estimou que as perdas econômicas ligadas às catástrofes naturais e aos desastres humanos em 2019 alcançaram um prejuízo anual de 140 bilhões de dólares. A situação é tão grave que já se fala na possibilidade de colapso da atual civilização. Afinal, a Terra conheceu 5 extinções em massa antes da que começamos agora a presenciar. Há 450 milhões de anos, 86% de todas as espécies foram mortas. 70 milhões de anos depois, 75%. 100 milhões de anos depois, 96%. 50 milhões de anos depois, 80%. 150 milhões de anos depois, 75% de novo. Com exceção da extinção dos dinossauros, todas envolveram mudanças climáticas causadas por gases de efeito estufa (A Terra Inabitável, Uma História do Futuro, David Wallace-Wells). Hoje, lançamos carbono na atmosfera a um rimo 100 vezes mais rápido do que em qualquer época anterior ao início da industrialização. Metade do carbono lançado à atmosfera devido à queima de combustíveis fósseis foi emitido apenas nas últimas três décadas. Mantendo o atual padrão de emissões, chegaremos a mais de 4º C de aquecimento até o ano 2100. Isso significa que muitas regiões do mundo ficariam inabitáveis devido ao calor direto, à desertificação e às inundações. Pelas projeções das Nações Unidas, teremos 200 milhões de refugiados do clima até 2050. Outras estimativas são ainda mais pessimistas: 1 bilhão de pobres vulneráveis sem condições de sobrevivência. O Protocolo de Kyoto, firmado em 1997, considerava que 2% C de aquecimento global era o limiar da catástrofe: cidades inundadas, secas destrutivas, ondas de calor, furacões e monções, enfim os antes chamados “desastres naturais” vão se tornar regras e não exceção. Em 2016, o Acordo de Paris estabeleceu o aumento de 2º C como meta global a ser evitada. Hoje, muitos cientistas afirmam que 2º C seria o melhor resultado possível. Se mantido o atual ritmo de emissões de carbono, chegaríamos a 3,2º C de aquecimento, o que acarretaria o colapso das calotas polares e a inundação da maioria das cidades costeiras. A elevação prevista, até o fim do